Olá

Bem vindo a partes de mim



sábado, 30 de julho de 2016

Passei o dia fugindo e você. Me esgueirando pelas paredes, rastejando no escuro, olhando por cima do ombro. Morri de medo de que, virando uma rua, desavisada, eu esbarrasse contigo. E mesmo assim, a energia pulsante de nossos corpos nos carregam ao mesmo lugar em mesmo tempo, como sempre fez. A gente cultivou essa mania meio louca de se conectar com o campo energético uma da outra (ou seria assim todos os seres apaixonados espalhados pelo mundo?).

Afinal, quando amamos alguém, é físico, químico, energético ou social? Nos apaixonamos pela energia que o outro transmite, pelo cheio que nosso instinto de sobrevivência caça, pela estrutura corporal que o acasalamento nos exige ou escolhemos socialmente a quem amar? é um encontro do destino coordenador dessa dança ou é nossa racionalidade mais forte que nunca?

O amar é fruto de qual deus? Seria afrodite baixando sobre nós sua benção pelo prazer ou iemanja nos convidando a mergulhar no mar? Amor, desse de quatro letras, quando sentimos, surge de quem?

Ou seria o não saber explicar a razão suficiente para considera-mo-lo o mas sábio dos sentimentos e, por isso mesmo, aquele a qual nunca deixamos de dar ouvidos? 

Ainda são seus lábios, depois de toda a razão
ainda são teus abraços, depois de toda a arte
ainda são teus seios, depois da ciência
ainda são nossas mãos juntas, depois da poesia
ainda são nossos olhos, depois da tempestade

sinto que te amo. Mesmo sem entender muito bem o porquê, nem só o quê. Sinto que te amo, de um jeito atrevido de amar. 

Vamos aguardar no tempo a hora da nossa história. Te ama, sem destino ou pretensão. 

domingo, 24 de julho de 2016

É pra recordar o dia. Quando sorriso cabe no mar? E quantos entre nós?

Corre na areia. Pula na água. Bebe cerveja. Ri de quem passa, ri do passado. Fotografa. É fotografada (letra também faz foto e meu olhos as guardam). Corre. Ri. Vinho vinil. Vinil de MPB. Mulher. Livro. Poesia. Lotado, apertado. Esbarrotando poesia. Ela riu. Eu ri também. Gargalhamos. Eu guardei a foto mais uma vez. E quando nos despedimos, nem sei se percebeu, mas eu guardei um pouco do cheiro dela em mim. O que pude, trouxe nas mãos. O que não deu, vou tentar lembrar. Que risada linda de fazer bem. Que olhos crueis de me apaixonar. Que atmosfera propícia. Tenho dito: não se junta praia com cerveja, vinho com vinil sem segunda intenções. Aliás, mesmo que ela não tivesse, meu coração vendo aquilo caiu na hora.

eu acho que tô ficando é louca. Ela sabe que habita aqui coração? pois se souber, vai devagar que ele é doidinho. Vai devagar, mulher! Depois não reclama quando eu me apaixonar

sexta-feira, 22 de julho de 2016

nós podemos parecer o trânsito
a avenida parada
ou, aliás
pareceríamos melhor
se fossemos a avenida vazia

naquelas frias horas da madrugada
em que a cidade ganha ares boêmios
nós seríamos os carros
que quase se esbarram
na contra mão

rápidos, em outras rotas
ou indo a lugar nenhum
eles se cruzam
rompendo o silêncio
da noite

por alguns segundos
(ou seria mais?)
seus faróis se esbarram
no mesmo ponto
de luz

os carros passam
deixam na avenida apenas o barulho
do ar cortado

somos nós atravessando a pista
com a garrafa de vinho na mão
sabendo que em breve seguiremos
na contra-mão


domingo, 10 de julho de 2016

o ir e vir da gente

tem horas que a gente decide se ausentar
decide ir como quem não quer voltar
se ilude que podemos não ser
quem somos

a gente acha que não estando presente
a gente não percebe o estrago
não nota a parede caindo
o reboco corroendo
a gente até consegue fechar os olhos pro mofo que se acumula

quando a gente sai de casa a gente acha que nunca vai voltar
mas ai chega a noite
no frio, a gente retorna quase sem querer
os pés que caçam o chão
buscam o único porto de qual guardam memórias
e lá estamos nós

de novo
fronte a fronte
com nós

assustamos com a aparência
com o cheiro da casa
não é aconchegante
na verdade, nos perguntamos se poderia vivalma respirar ali
e nos lembramos: não pode
mas não tem pra onde correr

e aí começa o trabalho
faxina pesada, sabe?
daquelas que precisa de luva e máscara
choramos, recordamos
descobrimos no entulho
coisas que nunca pensávamos estar lá
damos falta por tantas outras
mas prosseguimos

e nisso, o caminho se abre
esse texto por exemplo,
já á talvez a quinta vez que penso por abandona-lo
agora mesmo que faltou o ar
e prossigo, porque olho pro lado
e só vejo eu
pra chamar mais gente preciso antes habitar o lar

e vou

a faxina pode não acabar hoje
mas limpo a casa
quero um dia receber visitas
mas que não sejam as minhas
pois eu
quero morar

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Gratidão

Ao universo, em si próprio
por sua imensidão de amor
que cria-turas mágicas em seu seio
criações de você

tu, o fruto da beleza de todo o universo
só pode ser o parto mais lindo e sem dores
que as energias fluentes da atmosfera
foram capazes de ter

emergiu da luz
condensa em si
todo o brilho de estrela
que deu origem aos demais

eu sou grata
não só por ter conhecido o universo de tua boca
pelos teus olhos
mas tão somente por tê-lo ao meu lado todos os dias
você é tudo de bom que existe no universo
juntinho num só ser

o melhor jeito de conhecer um mundo
é quando ele é te ensinado por uma criança
e a maior dádiva
de minha vida
é ter aprendido a andar com uma criança
que me mostrou que os moinhos são, na verdade, dragões
que as nuvens não são ar
são algodão doce
que a maldade é mentira
e que se machucar é só dar beijinho
que sara

o melhor presente do universo
foi ter criado um todinho
e me dado de presente pr'eu cuidar

ORAÇÃO

é que peço,
se tu me permitir
um dia ser universo
que nem você.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

o olhos dela me arrastavam pra dentro. Faz algumas horas que estou parada olhando para eles e procurando alguma palavra exata que venha a registrar mesmo que minimamente o que eles causam em mim. Parecem duas ondas, me arrastando da areia e levando ao mar; parecem também que dentro dessas ondas existem cipós, que me amarram, me envolvem, me enlaçam. E não soltam.  São castanhos escuros, de uma escuridão que remete ao azul.
Aquele azul calmo e silencioso, misterioso, para dizer melhor. O azul gélido que queima, penetrando na gente. 

Ela parecia o mar. Naqueles dias que você consegue ver nitidamente a transição das cores da água, relatando a profundidade alcançada. Eu aqui, imóvel diante dela, parecia um animal indefeso, daqueles que fingem morte quando não querem ser predados. Assim eu ficava e ficaria mais muitas horas, se possível fosse. Se por algum motivo as divindades achassem que merecíamos sua benção de agarrar o tempo e estendê-lo por esse instante.

Parecia que faltavam as palavras, fugiam até mesmo os ruídos que minha boca poderia fazer. Nenhum balbucio de sílabas seria suficiente diante dessa cena. Nada mais importava. nada mais era digno de ocupar espaço entre nós, ou encher nossos ouvidos, que não fosse nossa própria respiração ofegante de quem vê o mar pela primeira vez. Isso e o meu coração, não vamos esquecer dele, meu coração rugia feroz, com fome, com sede, querendo desvendar o bicho na sua frente. Parecia um leão preocupado com o território, cheirava, gritava, andava em círculos ao redor do inimigo, esperando o momento de ataca-lo, de sobrepor seu corpo por cima do outro corpo e reconhecer ali quem afronta suas fronteiras.

Eu suava nas mãos, que já sentiam falta do corpo que ainda nem havia tocado, de tanto que ele já parecia a extensão do meu. Sentiam a falta, veja só! Eles notavam a ausência daquela pele enroscada na minha pele, sentiam o frio de saber que o calor está próximo mas ainda não aqui. Minhas mãos queriam passear por ela, descobrir as curvas, notar o formato, decorar a textura... Queriam descobrir em qual canto, qual esquina daquele corpo resguardava o nascedouro e toda a poesia.

Eu queria desvendar o mundo por baixo das roupas dela. Queria saber sua história, seus risos, suas cócegas, seus prazeres. Eu queria saber quem era mulher dentro da mulher, quem era a força onipotente por trás daqueles olhos. Ela era um universo à parte que me chamava pra dançar. Mas fazia isso tudo em silencio. Ela falava 4 línguas com o corpo e eu só queria uma delas correndo por minha pele.

Ela era um caos. Uma confusão maior que a minha, maior que as que eu já tinha visitado. Era o big bang pulverizando o céu antes de originar os planetas. E eu queria ficar pra depois da explosão. Aliás, se me permite, eu queria testemunhar a explosão. Eu queria ser a pólvora, queria ser a chama, queria ser a fumaça que abriga o fogo.

Eu queria tanta coisa mas diante dela eu só sabia querer. Eu não sabia sequer rasgar o ar entre nós com gestos que a trouxessem pra perto. 
Ela era um amor que vivia dentro da minha cabeça. Ela era o amor que eu tinha à minha frente (e ao lado, e acima, e por trás, e por dentro) sem saber mexer. 

Eu olhei por dentro dos olhos dela, pulando qualquer porteira que insistisse em me manter do lado de fora, desejei com toda a força do mundo que ela soubesse ler pensamentos só por esse momento, para que eu pudesse dizer a essa mulher - da forma que ainda não se sabe botar em palavras - o maremoto que ela causa aqui dentro.
INCONCLUSO

nosso amor
andou na linha do trem
esperando a página virar
e chegar ao ponto final

eu digo que o ponto andou pra trás
ou o amor tropeçou
e caiu da linha
antes do tempo?

eu digo que nosso amor
desvia do ponto
fazendo estripulia
pra não chegar ao final?

o inconcluso
é a paixão
é sua língua queimando dentro da minha boca

é eu arrastar os dedos cobrindo seu rosto
decorando os sinais, os vestígios
cavando pra saber em qual dessas linhas
nasce a poesia dentro de ti

inconcluso
deixe em aberto o destino
que em qualquer hora eu venho buscar
respostas
dentro dos teus lábios
salgados

pra fazer o céu parar de rodar
é só a cabeça começar a rodopiar
na mesma frequência que dança
o universo

meu verso descabido
geralmente abre o caminho
que meu peito havia fechado para ti

se me comunico nas frases
que parecem cortadas
é pra te mostrar
que nem sempre
o pé da vida
vai até o fim

pra meu coração ganhar cor
é preciso pintar com tinta
tinta de lápis, de pincel, de olho
é preciso extrair da dor
toda a cor
que couber na imensidão
do mar
do seu olhar
do respirar

pra abraçar o mundo
é preciso antes
acalentar a si
se envolver nos braços da terra

pra firmar o pé no chão
primeiro é preciso descalça-los
é preciso se certificar
de que esticou os dedos
que neles entrou terra, chão, firmeza
que neles entrou certeza
que neles entrou um ser
que neles entrou o mundo

pra chegar no infinito
tem que conhecer o tempo
brincar com ele
como quem dança bambolê

tem que estar além
porém,
aqui.

pra ter sonho
é preciso antes ser
sonho

pra correr é mundo
é preciso aprender a nadar

pro coração habitar
amor
é preciso antes ser
aquilo que queremos ver
é preciso colorir
é preciso ir
e ficar

pro amor existir
é só uma questão de espaço
quando mais você ocupa seu corpo
mais ele habita você
e com você,
um mundo todo.

domingo, 3 de julho de 2016

Amo ter alguém comigo, companhia, companheiro, companheira. Amo alguém pra rir da piada, do jeito que eu falo, das minhas comidas estranhas. A arte do encontro não se materializa em toda esquina. Nem sempre todo mundo quer falar da vida das libélulas e da sua mania estranha de pisar torto na infância. Amor é encontro e encontro é arte. Lembra sempre.

Da sequência de amores só faz pena não ter tido mais tempo pras recaídas. Não ter coisa mais gostosa que beijo de quem cai em tentação. Mas se, àquela hora, meu corpo tinha decidido ir, então é porque já era hora. Acredite na sua sabedoria.

Numa sociedade em que a felicidade é programada, não se furte de viver isso livremente com alguém. Não se furte de amar, de frio na barriga, de borboletas no estômago, de riso de nervoso. Não deixe de ser feliz, não escolha a solidão. Solidão já pesa demais aquelas impostas pela vida. De sua escolha, certifique-se de sempre escolher amor e companhia, felicidade partilhada.

Escolha sorrir, correr, amar. Viver nem é tão perigoso.
Tem que parar de não valorizar quem te ama.
Tem que dizer que ama. Disse já? Diz mais. Diz uma, duas, três, mil vezes.
Amar nunca vai ser demais.
resolve os problemas.
Resolve devagarzinho mas não deixa de resolver.

Diz que ama de novo.
Depois, faz café da manhã. Não almoço requentado, café da manhã mesmo
com fruta, tapioca, café e aquele gostinho especial
de recomeço
ah, não esquece de recomeçar
sempre que doer, apertar, magoar
não tem medo de pedir desculpa
nem de admitir erro
mas se perdoa também
não esquece que a gente se perdoa igual perdoa os outros

Cuida das pessoas
faz cházinho, cafuné, leva cobertor pra alma
beija o pescoço, as orelhas
os lábios com cuidado e intensidade
faz rir
faz pipoca
e chocolate
mas deixa ser cuidada
não esquece de ser mimada
e rir do mimo
agradecer
e dizer: volte
sempre


olha nos olhos, não esquece
tem cuidado e atenção
com todo mundo
primeira lição do amor

é ame
com os olhos
com os ouvidos
com a boca
com os abraços
com as palavras
com os sorrisos
com o amor
ama bem muito

até o dia raiar e raiar