às vezes
queria saber balançar o tempo
arrancá-lo de suas pernas trêmulas
esticar suas nuances
e brincar feito criança
desfazer seus nós
acalentar a criança em meu peito
e saciar a fera selvagem faminta
que eu criei tanto tempo
sem medo que viesse me morder
o tempo ruge
muito mais ruge meu coração
bagunço memórias
esqueço-me da linearidade
e todo dia parece o hoje
em que seu toque me acalenta
seu eu soubesse domesticar o tempo
eu faria uma roda
desceria em espiral por suas fendas
e coloriria com o cheiro das nuvens
se eu pudesse domar o tempo
eu extinguiria a saudade
com um beijo suave de presente
se eu conseguisse dobrar o tempo
não olharia o futuro
não esqueceria o passado
aterrissaria em um presente imenso
talvez eu não precise balançar o tempo
talvez eu só precise abraçar à mim mesma