Olá

Bem vindo a partes de mim



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

amor meu
cochilando entre falésias
vestido da cor do mar
soprando a fumaça branca
contra a poeira amarela que sobe do arrastar das porteiras
é você desbravando meus sertões
abrindo caminho deitado no meu peito

eu escrevo poesias como quem tira retratos
tento tatuar nas palavras o que meus olhos não sabem guardar:
esse abraço debaixo do cobertor
e a sonoridade da sua voz sussurrando pela madrugada
"você é a mulher da minha vida"

o caminho da paz pode ser do tamanho que for
eu pego um atalho chego correndo e te encontro nesse abraço
eu te amo
e amo tudo que se desenha nesse encontro
encontrei meu amor na risada da piada beSta
nas vezes em que abri meu coração e não tive medo
caminhamos na rua com seus braços em meus ombros e os meus em sua cintura
o rio é logo ali, quer passar pra olhar?



segunda-feira, 25 de novembro de 2019

que difícil caçar as palavras desse amor aqui dentro
são teus beijos que me abraçam
e que saudade de nós dois deitados nessa cama por horas a perder de vista
te amo do jeito inesperado e grandioso de amar
te quero aqui, pertinho de mim (ainda que longe)

não corra pra longe
eu já não me assusto com o barulho dos fogos
faz tempo que o céu relampeja perto de casa
comecei a gostar das cores e ter paciência com o estrondo
fique por aqui
eu sussurro enquanto te vejo cruzar a porta e caminhar no vazio
é longe onde não alcanço e sei se consigo esticar
a brincadeira de esticar o tempo é mais divertida quando você também tá nela
eu espero e enfeito minha morada, como sempre fiz
caminhe longe, mas não vá longe demais
quero ainda poder te ver ao horizonte
o sol queimando sua pele e o vento salgado bagunçando seu cabelo
você brinca com minhas mãos de um jeito inusitado
e eu amo que nós nunca precisamos explicar pra nos entender nessas bobagens
é tendo de saudade e eu estendo nossas lembranças no varal
o caminho se faz caminhando
pelas estradas tortas e nas vezes em que torcemos o pé
naqueles momentos em que cansamos e sentamos na beira da estrada
- que calor da bexiga, ando mais nem a pau!
e logo mais alguém senta do nosso lado até nos fazer esquecer de levantar
(isso também é o caminho)

sou eu por todos os lados
em cada canto que deito a vista sou eu que me enxergo
por cima dos montes e no mais fundo do rio
sou eu que bagunço as árvores e esquento a terra
vou me derramando em dias chuvosos e cada lago são criações do meu ser
é a vida por todo lado

meus passos não são grandes nem pequenos demais
são exatamente do tamanho de minhas pernas.
e o destino só existe quando eu chego lá
para então deixar de ser
- se torna mais uma curva em minha trajetória
e são nessas costuras que eu desenho o formato de minha alma

se insisto no buraco em que caí, perco a visão
olho pra baixo e me perco da luz.
se, por um instante, reviro o corpo buscando água e olho pra trás
vislumbro que a estrada me trazendo até aqui fez boa vista
e o chão caminhou acolhendo o formato dos meus pés


é só o caminho
é terra batida curva sinuosa e campo verde
(sim, igual o desenho da criança)
venho pintando pedrinhas por todo esse tempo
o rastro que deixo é apenas história
de amor, claro.


quarta-feira, 11 de setembro de 2019

são as doze badaladas do fim do futuro
o barulho seco de freio e o pneu cantando na estrada
anunciam a nova rota.
eu sinto o hálito cortante da noite, frio e veloz
penso no teu corpo quente contrastando minha presença
entre o que foi e o atual

são verdes e negros, embaçados como minha vista
as cores do presente confundem-se com o passado
mas o ritmo da vida marca o surdo de forma diferente
pra eu entender que tudo muda - ainda que regido pelo silêncio.

o tempo corrói comendo feito a maresia tua pele de metal
eu descanso na brisa e danço pelo espaço
no reino das águas sou sublime,
meu corpo é o encontro exato entre o céu e o mar
encontro meu sol e nele posso mergulhar

tempo rei tempo rei
arrasta a sabedoria do tempo de lá
estende a sede de vida do lado de cá
desenha um mundo em que a gente se encontre nesse meio de caminho
a terra é batida não floresce faz tempo
o sertão já sente cheiro de chuva mas falta regar
eu quero ver a deusa se derramando do céu
eu quero ver o açude cheio interrompendo a estrada
eu quero ver o rio correndo livre - lado a lado com meu espírito.


23/07


quinta-feira, 28 de março de 2019

Esses dias azuis
em que há não soberba para encontrar o horizonte
porque tudo é mar e céu
em cima, embaixo, por todo canto
e o vento ligeiro que corta as janelas
chega no nosso rosto e abre o sorriso - nem que seja na marra!

eu olho pro lado e vejo meus companheiros
do tempo em que há mais tranquilidade
das fugas mais bonitas e espontâneas
tenho saudade é dessa sensação
um gosto de aventura e verde na boca

há muito amor em todo canto
e a felicidade já é tão de casa que nem precisa mais chamar.
as músicas são sempre tão gostosas
que até hoje, ao ouvir qualquer acorde semelhante
meu peito entra logo em estado de graça
porque acho riso nesse dias de mar
(ainda que de chuva em tabatinga)

eu acho que era a confiança
talvez a falta de medo
e ainda uma boa dose de coragem
que nos permitia enxergar no outro algo tão bom
e fazer disso uma conexão tão forte

eu sinto a juventude caindo na minha língua
como quem dança na chuva e abre a boca pra beber a água
cai uma enxurrada e eu só penso em correr contra o vento
e no final, já seca, recostar os ombros e me sentir em casa

o tempo é um senhor generoso
além de sábio, tem pouca memória
por isso mesmo escolhe só aquilo que lhe faz bem
e ainda tem a doçura de colorir melhor

mas os carros cortando o vento
descendo a ladeira de tabatinga ou indo em direção à pipa
a piscina de cotovelo ou  mar de pirangi
são todos esses tons de azul que me carregam
e fazem dançar suavemente a moça de meu coração.
não se acomode na felicidade.
eu costumo escrever sobre os momentos bons para não me afundar em tristeza
ou escrevo em tristeza para expurgá-la de mim.
pois bem, hoje escrevo de um momento muito ruim pra me lembrar a não me acostumar com a felicidade.
não passe a tratar como banal esse momento tão único
e quando ele se prolongar no tempo, já tão próximo de sua rotina,
agradeça a benção e, todos os dias, se recorde do quanto é especial.
não se acostume com os dias que se iniciam e se findam em riso
para que não caia no pecado de um dia achar ordinário
se esforce para lembrar que a felicidade é uma dádiva
e então trate como um presente delicado que colocaram sob seus cuidados
vigie, sem sufocá-lo
cuide com gentileza
observe-o sempre como da primeira vez
agradeça e acolha sua felicidade
no presente
não aguarde se tornar passado pra ganhar valor.

26 de dezembro de 2018.