Olá

Bem vindo a partes de mim



sexta-feira, 5 de outubro de 2018

se me permite, gostaria de tirar seu corpo pra dançar
espantar-lhe o medo, retirar a poeira que firmou criando essa crosta
desfazer a carcaça rígida e deixar cair o corpo ao chão
ainda que seja pra se desfazer
e feito água esparramar sem nada que o segure
fino e indomável, por pura teimosia

o que você se propõe ao dançar?
desfazer-me como líquido
não firmar nenhuma segurança
certeza, ou valentia
moldar-me ao que for preciso
transformar o que já existe
e despir-me do ultrapassado.


por que você diz que me come
se sou eu que tenho lábios?

se é em mim que você some
e minha carne devora o seu corpo

sábado, 25 de agosto de 2018

DIÁLOGOS QUE NUNCA TEREMOS

- me confunde teus olhares, deste ângulo
- como assim?
- quando vira a cabeça e me deita os olhos risonhos, meio aqui meio acolá, desviando vez por outra. Nunca sei se é paixão ou negação.
- São meus olhares, não querem dizer nada. São pra onde olho.
- Não é só isso, é como você olha.
- O que tem a forma como olho?
- Diz algo e eu não sei o quê.
- É porque não querem dizer nada.






terça-feira, 24 de julho de 2018

coisas pra nunca esquecer, ainda que em um relacionamento:
ficar com minha família
ir à praia e estar perto da natureza
sair da rotina, ainda que um pouquinho
sentir é bom!
ser um vulnerável tbm!
sair com meus amigos
estar com meus amigos
ser presente e não me dedicar apenas ao relacionamento
estudar
estudar pra caralho
ser uma profissional fuderosa que eu sei que posso ser
ser um mulherão da porra sem medo de intimidar meu parceiro/a
me sentir linda e plenamenteo paquerável com a vida
ter minha individualidade
escreverrrrrrr
dançar R E B O L A R A R A B A
ser um mulherão da porra, já disse?


eu me sinto impotente, pequena, pequena
e quase que toda invisível
não sinto cheiro das coisas
e me pego desatenta ao mundo,
só a comida ainda tem gosto
e me forço a lembrar que este
não pode ser o único prazer da vida.

sinto que se esvai uma parte de mim
que há muito adotei como tão grande
que poderia se dizer que era minha metade.
Não era a metade romântica, nem a metade de completude,
como se eu antes fosse muito pouco ou quase nada
era uma metade em dobro, um bônus do universo
a mesma chama ardente queimando em duas cabeças
e desafiando a rotina por paixão que habita em um peito selvagem

foi por desapego à rotina e vontade de pulsar na liberdade
que a vida nos deu o presente
 a sintonia é sempre uma dádiva
pra quem deseja caminhar lado a lado,
construindo mundo em que acreditamos e queremos viver

me sinto varrida e esvaziada,
metade que se solta por ai,
ainda que em dobro,
faz uma falta danada.

dói pela saudade
mas também pela ausência
(que nem de perto são a mesma coisa).
é a dor e o peso de viver o unilateral
esse ensinamento que me persegue em círculos
eu sempre hei de encontrar, enquanto insistir em não fazê-lo.

aprendendo a ser mais por mim,
aprendendo a ser também com outros
- e nunca por outros
aprendendo que a caminhada se faz só.

só eu posso aprender os ensinamentos que tenho pra dar
somente em seu tempo cada um encontrará seu caminho.
só eu posso saber quando meu tempo virá
somente ela poderá saber o que a vida tem a ensinar.

sinto saudade
e pra ser sincera, decepção
por sua escolha em ir embora
por mim mesma, que percebo
como fica uma ligação
quando eu não faço os dois papéis.





sexta-feira, 22 de junho de 2018

ruindo

o pouco de firmeza que ousei construir
vai se desmanchando como areia fina
diante dos olhos
eu afundo as mãos na terra
e tudo que resgato é como água
se derrama entre os dedos e me escapa.

destrocei com punhos firmes
a casa que me abrigou com afeto e carinho
matei de sede as flores que brotaram
por desconhecer sua natureza diversa da minha

não sobraram nem mesmo as luzes
a cidade cai junto com a noite
e eu me recolho nos destroços

eu não entendo o porquê
mas sempre incendeio minha morada

sexta-feira, 13 de abril de 2018

desejar teu corpo
entre cem mil outros corpos
pelo prazer de não pertencer a nenhum destes
eu sinto a noite como um calafrio
que me percorre a espinha e cruza
o oceano das histórias que me pintam
a paixão me faz uma mulher oblíqua
cubro curvas e desenho trajetórias perdidas
entre todos os caminhos que me deitam retos
os dispenso
o destino é mais prazeroso quando o faço
dançando por meus quadris à vontade de meus lábios
o mar noturno e a areia resfriada
eu não sou esta mulher
eu não sou a mulher se que deita ao seu lado todas as noites
não sirvo bem com a domesticidade
gosto da selvageria que nos devora quando falta luz
de percorrer estradas intocadas e me perder em cada esquina
não me acostumo com a paralisia dos dias
porque seu fervor me percorre
e o calor que aquece também incendeia
incinera
a cortina os móveis as vigas
destrói a casa em que fizemos nosso lugar
o mundo carece de paixão em meio ao caos
não é a rotina que nos comove
é quebrá-la
digo que sempre há amor
enquanto houver aquilo que nos destrói e reconstrói
em seu olhar
sua saliva, seu gesto e seu toque.
é preciso viver antes que a morte chegue, antes que sejamos sua morada
ainda que vivos
é preciso viver
com muito mais, com muito mais que o pouco
ainda que seja muito.
Rasgar o véu dos dias.




quarta-feira, 7 de março de 2018

do rosto escorre um rio todos os dias
lágrimas após lágrimas
eu desenho na minha pele
o peso de minha cabeça

são vinte e um anos
meu corpo pende para vários lados
e ri da ousadia de quem acredita só haver dois

a alma é feita de tinta de aquarela
colorida, sutil e contagiante
mas desbota a cada gota que desce

alguns dias são mais difíceis
a saudade corrói
ferradura que pesa os pés
forjada à fogo

O que mata não é o medo
não é a dor, não é a ausência
o que mata - e que me perdoe o Senhor,
eu tenho medo de morrer -
é a desesperança.

esperança
esse bicho afoito,
que o escritor dizia bem:
não mata a fome, mas dá sabor ao pão
ensina bem como é ruim viver enssosso

tendo à crer que é possível,
fazer o possível, lutar o impossível
sempre um passo à frente da queda:
já onde nasce o amparo.

eu creio demais na bondade
e minhas pernas não aguentam mais o peso do corpo
os braços não aguentam o peso das mãos
e as mãos não aguentam mais carregar mundos

Hoje é só um dia ruim, que também vai passar.
às seis horas amanhece, às seis horas anoitece.
É sempre recomeço, é sempre continuidade.
resiliência.

sempre dizem que o mundo é meu
eu não o quero, pesa demais.
Cada um que tome o que é seu de direito.
e por direito eu quero dizer pertencimento.
afeto.
palavra que já não conseguimos achar perto da norma.


o mundo é grande demais
e eu sou pequena. pequena. pequena.
mas cresço. E todos os dias cresço.
Sou maior, serei maior.
Nunca do tamanho do mundo,
porque ele também cresce.


escrever é minha única morada
não há refúgio nem nos sonhos
escrever é o que me torna real
escrever é meu alimento, meu sal
minha esperança.

o sol sempre amanhecerá.
retrato de minha juventude.

éramos nós: barracas abertas por conta dos mosquitos, acordar de biquíni e correr para o mar. Fumar os matinais, comer frutas, rir da ocasião e deitar na canga cheia de terra. Ouvir a música, beber uma cerveja, descansar.


Sinto fim de ciclos, o número 12 a se reduzir cada vez mais. A vida muda, os tempos mudam. É cotovelo, pirangi, maracajaú. nós corremos a vida de praia à praia, de sol à sol, ouvindo belch, lendo livros e dançando feito magia. A juventude é um retrato lindo de quem não tem medo nenhum de viver.

Agradeço por todos os anos, grupinho, por todas as risadas. Esse grupo é isso: acordar tranquilo, viver cada segundo, estar el lugares diferentes, rir da rotina e e ser feliz.

28 de janeiro de 2018