Olá

Bem vindo a partes de mim



domingo, 18 de setembro de 2016

eu acho que senti que você iria. Hoje passei dirigindo a 60 km/h por sua rua. Mesmo assim, aquele segundo que olhei pareceu uma eternidade. Eu quase mudo o caminho e vou parar aí. Não fui, sensata. Não é mais hora.

Passei pelo café, na volta, ainda a 60. Talvez até mais rápido, dessa vez. Outro segundo eterno. Olhei para a varanda e haviam duas pessoas conversando, bebendo café, mexendo nas tampas dos copos. Mas o que eu vi foi a gente, meu nervosismo que destruído duas tampas e um copo, sua calma de quem sabia abafar bem a euforia interna. Só que eram outras pessoas conversando. Fazia um tempo já que não era a gente ali naquelas cadeiras a decorar as luzes da cidade para nos referirmos em poemas.
Faz dias que não paro de pensar no seu corpo, no seu gosto, na sua pele. Faz tempo que tu nçao sai de mim, menina. Nunca saiu. Nesses dias tenho chegado a conclusão que a música da nossa história é crazy in love. Não só pela magnífica performance que você fazia dessa música entrecortada pelos seus gemidos quando nos amávamos por toda a noite. Mas também esse amor nos deixou envoltas em algum tipo de magia forte que nos absorve e nos enlouquece. Criamos nosso mundo, nosso fogo, nossa paixão. Rasgamos as regras, os caminhos, os códigos, os planos. Nós tocamos fogo nos navios e decidimos ficar na ilha deserta. Não queríamos resgate. Nunca quisemos.

Fui eu que deixei a ilha. Uma dia você acordou e eu tinha feito uma jangada improvisada e jogado ao mar -  todo mundo que olhava a cena via que era impossível sobreviver daquilo. Todo mundo já tinha visto que aquilo iria simplesmente naufragar. Você, teimosa, ainda quis ir atrás. Pegou o que pode ao redor e construiu algo muito mais improvisado e ainda assim muito melhor que o meu, jogou nas águas e foi ao meu resgate. Não adiantou, nunca adiantaria, meu bem. Não era isso que eu queria. Não era ser salva, acho que não tenho maturidade para isso. Eu precisava ver as ondas quebrando meu barco e me engolindo ao final, era o que tentava te dizer quando a onda engoliu a nós duas.
Eu recobrei o fôlego antes (a história que nunca conto é que era razoavelmente boa na natação), você agonizou até encontrar a superfície. Estávamos perdidas. Nem ilha, nem barco, nem nós. Era tudo chão de água e a distância era a única linguagem que conhecíamos. Eu nadei, você também. Ninguém sabe pra onde. Quem queria achar a ilha de volta? Quem iria se arriscar no desconhecido do mar na volta para a civilização?

De início, as braçadas eram apenas para preencher o tempo e acordar o corpo, nem mesmo sabíamos em que direção estávamos indo. Mais perto ou mais longe? Em direção ao desconhecido ou ao lar? Era tudo acaso e caos. Eu e você girando em círculos dentro mar, enquanto a correnteza magnética dos corpos apaixonados nos sugava. Você ia, eu vinha, eu ia você voltava. Tudo era caos, porque no mundo das águas não há espaço para erros.

O nado nos levou mais longe, cada vez mais. Você desistiu de caçar sereias e reinos mágicos debaixo da água -  não há escapatória, não há terceira opção. É lha ou mar. Você sabia melhor do que eu, sempre foi mais atrevida e, mesmo que não admita, gosta de ousar mesmo sem nenhuma firmeza sob seus pés. Ao se ver perdida na imensidão do mar, olhando por todos os lados sem conseguir me ver, decidiu, sabiamente, se jogar contra a correnteza, se arriscar a passar de onde as ondas quebram. Tomando o maior fôlego da sua vida, se preparando para a grande passagem, torceu pela última vez para me encontrar do outro lado. Meus gritos, aqueles que você ouvia os ecos, no meio da noite, diziam para ir, se libertar de vez. E você foi. Porque você sempre vai. Você sempre me surpreende fazendo justamente o que mais admiro, ouvindo e confiando. Você é a pessoa que vai. Como naquele dia, em que te mandei beijar outra mulher, torcendo para que não beijasse, eu te mandei ir, torcendo para que não fosse, ainda que no fundo. Mas você foi, porque você é boa nisso de ser independente. Você é realmente um poço de bravura. E por mais que isso tenha doído, é o que amo em você. Porque você é o meu passarinho, e sempre vai alçar voos mas longos do que eu poderia imaginar.

Passarinho não é bicho de mar, meu amor. Do teu fôlego, quando emergiu, correu direto pro céu. Lá, tuas asas abriram e você pode então enxergar todo o mar, descobrir o desconhecido e voar até terra firme. Isso é bom. É lindo.

Eu havia ficado, batendo a cauda dentro d'água, criando as ondas fortes que te expulsaram para o céu. Eu sempre quis te ver voar. Eu acabei ficando fraca, meu amor. Acabei cansando demais na natação, enquanto ainda girávamos dentro do mar. E acredto que nunca conseguirei sair daqui, sabe? é minha casa. Eu me fundi nesse mar porque precisava aprender que eu sou como ele. Eu precisava disso. E agora eu sei que eu estou cansada e sem forças para continuar a trajetória. Você sabe que eu sempre gostei pouco de terra, ainda mais das desconhecidas. Por isso que eu fiquei. Depois que te vi linda la no céu, juntei meu poucos esforços e voltei nadando para casa. A ilha me acolheu quase tão bem quanto antes. Mas na verdade essa parte é mentira. Eu voltei para a ilha e aqui dói sem você. Dói porque eu não sei construir casa e sou "maluvida" pra fugir do sol, sempre acabo queimando os ombros.

Eu estou na ilha, meu amor. Porque eu preciso dessa solidão para aprender a amar, da mesma forma que você precisa do céu para desbravar. Nós somos náufragas duas vezes e em nenhuma delas tivemos resgate, saímos dessa sozinhas, e tenho orgulho disso. Nós caímos no amor e na vida, como poderia dizer qualquer poesia bem feita. Nós estamos aí para sermos testemunhas de amor verdadeiro e liberdade de ser.

Continue voando, passarinho. Sempre que der, passe para cantar pela ilha, ela se enche com tua voz (e sente tua falta!). Eu cuidarei de tudo que puder por aqui, inclusive de mim mesma. Serei(a) forte.

Vai ficar tudo bem.

DEIXAR VOCÊ IR

tem doído.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

eu poderia amar menos
dizem que eu não consigo evitar me apaixonar
dizem que eu preciso de tempo
de espaço

eu deveria amar menos
sentir menos
me apaixonar menos

mas acontece que eu sou poeta
e quando penso nisso
todo o resto se esvai

eu poderia ser um pouco menos de tudo
dar menos chances ao acaso
chorar menos por coração partido

mas acontece que eu sou poesia
e é por isso
que meu pássaro azul
não sabe viver em gaiolas

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

você
me rasga
a pele
existe um poema a ser dito
um poema que ainda não disse.

existe algo de nós
que ainda não existiu

tem algo para ser dito
entre eu e você
que ainda não foi dito

existe um beijo
entre nós

existe um amor entre nós
que ainda não foi vivido