Olá

Bem vindo a partes de mim



quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

eu tenho muito medo de não conseguir
e sinto muita falta da minha família
me dói ter crescido só
me dói sentir que cresci só
mas tenho muito orgulho de mim
não pelo que sou
nem pelo que me tornarei
nem por qualquer outro motivo que as pessoas pudessem ver ou notar
eu tenho um orgulho danado de todas as vezes que consolei meu choro
que não me deixei cair ou quebrar em um ataque de pânico ou ansiedade
eu tenho muito orgulho de todas as vezes que fui meu próprio ombro
e pés, e colo
tenho muito orgulho de ter sobrevivido
e sobreviver todos os dias

isso não é um poema
são os pensamentos soltos de lembrete
mesmo que eu nunca seja boa
mesmo que eu nunca consiga
mesmo que eu falhe, erre
mesmo que eu fique pelo caminho
todos os dias em que eu for capaz de enxugar minhas próprias lagrimas
eu vou saber que eu venci

28 de novembro de 2016
As luzes da cidade esqueciam de aquecer quando precisavam dividir espaço com o calor do corpo dela.


Era ainda antes da meia noite, mas o vento marítimo desta esquina do continente não costuma perdoar quem nasce do agreste e desce para a praia; meu corpo tremia de frio e os pelos arrepiavam-se nos calafrios da espera interminável que precedia a sua chegada. Naquele tempo, aguardando sob a luz amarela dos postes - claros demais -  do setor I, eu tilintava os dedos na mesa, ansiosa pela visão que encheria meu corpo de calor, mesmo sem saber se estava preparada para receber tal onda.

31 de outubro de 2016
chega a madrugada e eu preciso ler poesias.
preciso ler poesias como quem come de colher as letras
preciso me afogar na saliva prepotente de todos os deus carnais pra esquecer o gosto do seu suor me travando a pele pelo arrepio
me lambuzaria todas as vezes que o poeta me dissesse a palavra amor
só por lembrar da tua língua me beijando os Lábios

5 de novembro de 2016
composição renascentista
nosso amor em barroco
de tantos enfeites e cores
que derramamos sem dó

a deusa escupida em pele humana
os tecidos finos que cobrem o corpo
e caem ao chão em ondas
enquanto ela posa, impecável
pros meus olhos lentes quadro pincéis

perfura-me
com os olhos de tigresa.
jorrando o sangue
que se espalha
é também parte do quadro.

anjos caídos e demônios domesticados
a terra em chamas e o céu que se abate

o amor enquadro

eu amo demais jarina por todas as vezes que ela segurou minha mão até a gente adormecer só porque eu tinha medo

*pra lembrar de amor, educação e direito*

escrever pra mim é a forma de existir no mundo. E, por isso mesmo, também acaba sendo grande parte de minha rotina. Escrevo sobre qualquer segundo que me prendeu um pouco mais de atenção; constantemente rabisco as cores, as poesias, os acontecimentos mais inacreditavelmente diários vão parar nas folhas dos meus mil caderninhos. Mas sobre essa despedida, eu enrolei até o último segundo. Tive tanto medo dessa despedida que fui assim, varrendo pro fim do dia, pro fim de semana, pro fim do fim de semana... Mas até o fim do fim chega. Enquanto escrevo e apago essa frase milhões de vezes, lembro que gastei quatro ou cinco folhas do meu caderninho tentando rabiscar sobre isso, mas sempre em vão. É complicado juntar em um texto só tudo que educação é pra mim, ainda mais precisando colocar nesse texto também tudo que sonhos são. Agora imagine um texto em que eu preciso falar de educação, de sonhos, e da pessoa que me ajudou a reencontrar meu sonho, através da educação, num mundo cinza-sério-demais.
 Aos cinco anos eu decidi que seria professora (depois de e decidido ser poetisa sem saber muito bem como se fazia isso). Hoje, aos 20, tenho mais certeza do que nunca: eu serei professora. Um dia, em uma festa do efetivando, me olhei no espelho e concretizei "serei mãe e professora. Não importa onde, não importa de quem", pra nunca esquecer quais são meus maiores sonhos. Em uma aula de direito do consumidor eu percebi que havia encontrado algo com o qual poderia trabalhar no direito, pois foi onde, depois de mundo tempo, redescobri a curiosidade. Foi escrevendo um relatório para sua disciplina, após uma visita ao CEDUC, que eu percebi que trabalhar com infância e juventude é o que me enche os olhos. E, mais uma vez, foi em uma aula sua, dessa vez de Direitos Humanos Fundamentais, já enquanto monitora, foi que a certeza, cortante, decisiva e irrefutável me arrebatou: o único caminho possível para a educação é o amor, porque é somente através dele que podemos enxergar e tocar o outro, e somente por um contato sincero, humilde e humano é que tornamos possível o processo educacional. É somente quando trazemos o outro para perto que conseguimos nos comunicar. Educação é troca, é comunicação. Educação é amor. Educação é coragem: para ser amor, se despir diante do mundo e arriscar sonhar.
Angelo, existem muitas coisas que eu preciso ainda te dizer, sobre o quanto me inspira e me faz crer em mim. Você talvez nem tenha ideia do tamanho da sua importância, para minha pessoa e para meus objetivos profissionais, mas você é pra mim como um farol. Não é âncora, porque sabe que o mais importante do mar é desbravar, e nunca me acorrentaria a só um chão. Também não é mapa, porque entende que meu caminho talvez seja traçado por outras rotas, e talvez nem mesmo o destino esteja certo ainda. Você é farol porque é guia, é referência, é quem nos leva ao porto. O farol é quem buscamos nas noites de tempestade quando as ondas ameaçam virar o barço; é também quem nos dá a tranquila certeza de sua presença nas noites mais calmas, quando apenas decidimos nos afastar da costa para conhecer novos lugares. O farol é a certeza de casa, mesmo quando nos alça a expedições mais longas. O farol é quem diz: navegue, mas não perca a erra de vista. E quando nas confusas ou solitárias noites sem sonho e sem estrelas, perdemos as esperanças, eis que o farol ressurge de um de seus giros, nos lembrando que há esperança.
Em pedagogia da esperança Paulo Freire nos fala do que mais é feita a educação, muito além das receitas e das objetividades, é preciso também tter esperança. E desde que comecei a ler esse livro eu tenho mais certeza que precisamos alimentar as pessoas, não apenas de comida, de condições de vida, de resolução de problemas jurídicos; mas é preciso alimentar a alma das pessoas, colocar gosto, vida, cor, sonho, textura, prazer. É preciso enxergar no outro uma pessoa, e mostrá-la isso. A esperança é como o adubo do campo de sonhos. É quem nos lembra que podemos sonhar. Esperançar (não de quem espera, mas de quem tem esperança) é construir o sonho, é mudar o mundo, é ter a rebeldia de amar. 
Você, farol, pra mim é o reacender da esperança, por acreditar em mim, por perceber aqui outra humana, por acreditar na educação, por ser um educador, por batalhar querendo sempre querer ser - e nisso nos mostrando que nós também podemos - ser mais. 
O farol, em seus ciclos, também nos deixa por algum tempo enquanto alumia o outro lado do mar. Assim como tudo na vida, obedece a fina lei da impermanência. E por isso mesmo, indo e voltando, nos encoraja a desbravar o mar, sabendo que uma hora volta pra nos lembrar o caminho de casa.
Espero que seu novo ciclo seja de aprendizados e ensinamentos, que você conheça, ilumine e seja iluminado por muitas pessoas, que seus passos sejam sempre protegidos, abençoados e num caminho de crescimento. 
Gratidão por tudo, Ângelo. Por acreditar, por sonhar, por me lembrar que é possível ser feita de carne e osso nessa máquina de moer gente que é o Direito. Obrigada por lembrar que é possível.
Sentirei saudades, mas uma saudade com o coração cheinho de orgulho e felicidade. Nos encontraremos ainda pela estrada, sonhando e construindo um mundo melhor. Até o próximo giro, farol. Alumie.

Beijo!

escreva, janari
quando não houver esperança
e o medo brotar em seu lugar.
quando não há caminho,
ouse abrir um com seus dedos:
desenhe letras.

escreva, permita
que corra dentro de você
todas as águas do mundo
desembocando em poesia

lembre-se de sentir
que arte é o que você faz
quando se despe do mundo

(coragem. coragem)
um sentir-coragem.
que transforma todo sentimento
em revolução
e não há nada mais
corajoso, mais utópico
e mais ousado que
colocar-se entregue
à tudo que movimentar sua alma.







quinta-feira, 9 de novembro de 2017

nasce do suspiro
vige pelas correntezas
o ar que corre por esta casa


esta nas cores verdes
e na calma que possui o início de dia.
no cheiro suave que invade o carro
se torna real quando digo: não vá embora

e o ficar vai ficando cada dia mais.

esta na tranquilidade.
não é presença,
é a ausência de medo.
e isto é capaz de transformar em mim um mundo

sou surpreendida todos os dias
quando o bicho que sempre esperei devorar-me
deita ao meu lado
e acalenta meu peito


viver é maravilhoso
e jamais divino
perder-se em todas as nunces descabidas
arriscar as certezas
emaranhar-se no desconhecido
e s e m p r e
absolutamente
todas as vezes
ter medo



alçar-se a voos impossíveis
sem rota, sem sequer destino
viver é correr de olhos vendados
e sentir
- unicamente -
as garras afiadas do vento
seus beijos suaves
e os sussurros
promessas de amor barato e vagabundo
fácil e delicioso
efêmero e volátil

minha alma é frágil
e por isso mesmo apega-se às paixões
deseja o fundo do copo com nós dois embreagados
dançando
bebe a última gota
cachaça café limão

rasga o peito para que dele possa sair outro
rasga para confundir-se com o mundo

viver é despedaçar-se
entregar-se pelo caminho: aos amores, às paixões, aos momentos.
A tudo que me rapta a atenção
viver é deixar-me pela estrada
para que então possa ser toda
todas
e nenhuma


e ao recolher-me em meu próprio coração
penso: viver é bonito.

*Como nos alertava o grande sertão [de nossa alma]: viver é muito perigoso. Digo: ainda bem.


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

"o mar tem séries"
foi o que Ianca me disse enquanto me ensinava a passar pelas ondas
e logo após eu fui derrubada, diversas vezes
até o momento da calmaria, em que gritou pra que a gente remasse
e fizesse do silêncio do oceano a sua porta de entrada

a vida tem séries
e eu insisto em me desacostumar com elas, ano após ano
ciclo após ciclo
me apego aos finais, aos condenados, os extintos
à certeza da dor
ao mar raso
para evitar nadar durante a calmaria
eu tenho medo de chegar ao fundo
de passar as ondas
tenho medo de qualquer coisa que possa encontrar
do outro lado
depois da espuma

encerro uma série,
a primeira.
E esta é a que significa pouco mais do que nada
significa apenas a coragem de querer tentar, mesmo sem de fato fazê-lo
as surras e arrebentações
gritaram ao pé do meu ouvido cheio d'água:
coragem, menina.
Queira o seu querer
acredite no ritmo
acredite nas possibilidades
acredite em você
e se permita viver que esta além do medo


a vida trabalha em séries.
É hora da calmaria,
reme.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

acordo cedo e ainda é cedo demais
eu vejo seu corpo contornado de raios solares
é antes das oito, o sol sorri
e nos abraça queimando a pele que treme de frio

eu olho e você sorri
eu não sei ler seus sorrisos
você não me deixa ler seus olhares - nunca se demora o suficiente
eu não sei se devo me aproximar
não sei como me aproximar
mas meu corpo entra em batalha interna e parece que seu peito é a única zona de paz

eu te abraço e sinto que quero que fique.
e sinto muito.
eu desejo com todas as forças ingênuas do mundo
que de alguma forma esse toque saiba falar
pra te contar as coisas bonitas que não consigo
eu desejo com tanta força que seja tudo real
energias, paixões, magnetismo, astrologia, reza forte
eu desejo que alguma dessas coisas possa levar até você
tudo de bom que sinto


17 de julho de 2017
hoje eu quis muito o seu mal
quis querer o seu mal, aliás
queria de qualquer forma possível
dizer-te pra ir embora, correr como fugitivo dali
(mesmo sabendo que você sequer chegou a ficar)
o que eu realmente queria
de fato, queria querer
era te arrancar daqui de dentro
onde de alguma maneira,
sem qualquer justificativa
eu te semeei de deixei brotar

gostaria de poder arrancar você de minha pele
com as próprias unhas rasgar o local em que você se alojou
entre meus seios
e cuspir de volta a parte de você que entrou em mim

mas isso não combina em nada comigo
são as sombras da árvore que cultivo

meu desejo - esse que mora pequenino no peito
e eu mal deixo falar -
é somente
tão somente
te grudar a pele.
É dizer: vem comigo ouvir um disco de belchior
vem sem motivo
não quero te convencer a ficar
porque também não há qualquer motivo pra minha vontade
chega, de surpresa
me chame para queimar ervas e divagar
sobre a vida que é bonita

não apago nem a lembrança nem o cigarro
teu beijo é um bom retorno
eu fico no mesmo lugar


MENINO QUE DANADO É ISSO PORQUE EU AINDA TÔ NESSA

01 de agosto de 2017

eu tenho medo
medo quando cruzo a rotatória e me perco olhando
na direção da sua casa
e medo de que você me roube mais uma manhã no trabalho
tenho medo que eu tenha medo de te encontrar
medo de falar
medo de estar perto
eu tenho medo quando olho seu corpo e sinto meu corpo estremecer
eu tenho muito medo quando percebo que você me dá medo
porque eu desenvolvi medo ao mundo áspero
eu desenvolvi medo de escrever poesias como essa
que não tem rima não tem gosto não tem textura não tem final
é uma poesia jogada no papel de tudo que não cabe aqui
é medo porque é grande
o medo não é a ausência de coragem
o medo é quem te exige coragem
e por isso é a única forma que ela tem de florescer
eu sinto medo dos teus olhos que pouco me acham
porque quando eles me acham eu desmorono
eu tenho medo das suas mãos porque elas abraçam meu corpo de uma forma que o faz perder o medo do mundo
eu tenho medo de mim quando estou perto de você
eu tenho muito medo de quando você aparece
e me faz revirar o estômago sorrir feito boba cair no chão
eu sinto medo quando você me chama pra ganhar o mundo
porque eu não conheço seu mundo
eu tenho medo quando te vejo andando ao longe e balançando os cabelos
procurando algo que esqueceu em qualquer outro lugar
eu tenho muito medo do que eu sinto quando eu te vejo
e tenho mais medo ainda do que eu sinto quando te toco
eu tenho medo porque não consigo escrever — e isso é forçar o vômito com o dedo na goela -
eu tenho medo porque são 10:16 da manhã e o seu beijo já me assaltou diversas vezes nesse dia 

10 de julho de 2017
sejamos sinceros
já é inegável
que estremeço
que possuo poucas
- e deveria possuir nenhuma
expectativa
mas o corpo ainda fala
ele grita
toda vez que percebe o outro corpo em volta
é fome
é sede
é desejo
.
não deveria existir
mas existe
esse é o mal dos sentimentos
correm soltos
e não há quem possa domar
se a vontade já é muita
mesmo com a coragem pouca
é porque existem
nem que seja a vontade

4 de julho de 2017

segredo

guardarei esse poema secreto,
escondido em algum lugar que poderei falar sobre nós
porque existe um momento
que se forma
quando eu cruzo a salgado filho na madrugada
e a rádio me toca um samba
ou um blues - às vezes é blues
eu percebo como viver é lindo
e eu sinto vontade de te contar
te dizer que viver é muito bonito, e gostoso
eu me lembro de você
e esse é o nosso segredo
porque supostamente eu não deveria
deveria era queimar seus beijos
as lembranças
a marca ardente fincada no corpo
o cheiro
a voz
e nunca me lembrar do seu ritmo
,mas eu vivo esse momento tão sublime e me lembro de você
que talvez vê a chuva de outra janela na cidade
quem sabe nem veja
as histórias às vezes se cruzam rápido demais
mas a noite era bonita
e dançava com o samba
você ia gostar
é o nosso segredo
que eu lembro de você


21 de junho de 2017

eu tenho em mim um bicho que me devora a pele
rói por arrepios toda minha superfície, que estreme
ao olhar os cuidados do seu rosto

eu tenho medo como belchior tinha
porque eu também sei que a felicidade é a arma quente
que nos explode o peito
ao conceder exatamente tudo que pedimos

a paixão, eu acredito, me enche de medo
me consome como chama tornando brasa quem a alimenta
será território seguro?
será que há segurança pra aqueles que escolhem saltar?

4 de julho de 2017

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

é dia nove.
eu sinto o peso de oito meses.
São oito meses percebendo que morremos
e até hoje eu não sei.
Foram oito meses alternando entre realidade e fuga, dor e ausência, coragem e angústia.
São oito meses sabendo que morremos.
E por isso, desejando tanto viver.
Contudo, eu não sei dizer
tem um pedaço meu errado, colado errado
ele sobra e falta
é mais de um ano sem compreender nada, perdida em mim.
Me vejo, hoje,
aprisionada na própria solidão.

meu olhos são terra seca, rachada, ardendo
e não choro.
por dentro, enquanto, se faz tempestade
e os barcos sofrem, viram, são judiados pelas águas
num fosso escuro que se escondeu o que sinto
morremos. e a morte nos faz pequenos demais.
tenho medo de partilhar a vida, sinto que desaprendi
sinto que não sou capaz
de ser confortável a outro ser

sinto que a vida é real.
e isso me incomoda.
É real, e por isso finda.
Finda como todos os dias são findos
e todos os atos são despedida

me sinto longe
porque parece errado viver a juventude sem você
por mais que você quisesse tanto viver
mas eu não me sinto pronta
eu me sinto estranha
eu me vejo fora
eu me vejo distante

o caos

a incerteza

e me fecho.

Não feito rosa. Mas feito pontes levadiças. Concreto. Real. Impenetrável.
Grito do alto da torre e não há resposta.
o que considerei janela era espelho.
e a imagem refletida continua muda.
É minha alma que chora e é ela mesma que grita
portões fechados
os gritos ecoam por dentro da muralha
e o reflexo no espelho não emite nenhum som
nenhuma expressão
nem sequer vibra, contendo o impulso

Medusa, petrificada por seu próprio castigo
percebe que na verdade não é uma mulher fácil
assim como a vida também não é essa mulher
não reconhece o espelho não reconhece o grito não reconhece nada

é um bicho complexo demais

não é estátua
não é o que queria ser
só sabe que é
seja o que for

Percebe-se distante. E ao se aproximar, já não percebe-se.

silêncio. ausência. dor. fuga. medo. sabotagem. solidão. morte. medo.

apoio. abraço. coragem. compreensão. eu te vejo. eu te amo. despedir-se.

aceitar. encarar. transformar.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

DERRADEIRO

te quero.
É tudo que se há para dizer.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

eu estaria mentindo se dissesse
que você me deixa sem palavras
a verdade é que você deixa minha
língua tão fraca que ela esquece
a língua tão fraca que ela esquece
a linguagem que fala

RUPI KAUR

segunda-feira, 10 de julho de 2017

preciso amar quem ama o que eu sou
não quem poderia amar quem eu acredito ser

segunda-feira, 12 de junho de 2017

PRECE

Sou uma mulher devota
Sempre fui
Me apego à santidades
E então todos os meus atos são reza
Quando chega à noite e me deito ao seu lado
Na cama
Percebo quão divino é esse gesto
Olho seu corpo nú como quem se prostra
Diante de um altar
Cada marca na pele é pra mim como uma parábola
contando histórias pra alimentar minha fé
No milagre da sua existência
E quando te toco
Me sinto uma mulher abençoada
A cada beijo que espalho em teu corpo
Uma energia nova me invade
E sinto que somos um só
Corpo sangue alma
Me entrego a tal ato
Em completa devoção
Suspiros e gemidos uníssonos
Como uma prece:
Silenciosa
Profana
Descabida.
Mas de fé
E o coro da nossa oração
Nos eleva ao êxtase
Por tua força
Subo aos céus
Deito novamente ao seu lado
e possuo a certeza de que a paixão
me faz crente
que teu corpo é hóstia
- entrando em minha boca e se tornando parte dela -
e juntos somos a oração
que reascende a Divindade


domingo, 11 de junho de 2017

meu corpo abriga os mistérios do mundo
é terra sem lei, sem escrito, sem rumo, sem traço
trago em mim as cores de pintar dia
a luz que explode no céu da noite
que afasta o medo e desbrava a solidão

eu sou solidão
tenho em mim as dores de quem viu
se permitiu enxergar
e quero o vermelho de sua boca me ajudando a escrever amor no papel
porque é preciso acreditar no amor
porque é só o que nos resta
um mundo sem amor é cruel demais
e eu acredito que tu caminhas por ai
chutando pedras lunares e colhendo conchinhas na praia
só pelo prazer de colocá-las no mesmo lugar

eu sei que há também sua dor
seus rasgos, suas cores doloridas
e há também nosso medo
nossa confusão
a cidade que nos inebria

mas eu prefiro acreditar no amor
e que, talvez assim,
se possa escapar da dor do mundo
se possa escolher ver beleza também
com os mesmos olhos que viram a desordem e o caos

eu sei que há em algum lugar uma forma de juntas espaços
e que os universos se tocam
se não, como nasceriam as estrelas?
eu sei que de alguma forma
teu doce meu doce
tua dor minha dor
nossas cores
e os mundos em expansão
ousam se tocar
e permitem que nasçam estrelas
e permitem que nasçam planetas
e permitem que a gente crie nossa própria história
e permitem que se crie magia

eu sei que existe. Porque é cruel demais pensar que não.
eu sei que em algum lugar as pessoas ainda querem amar
do jeito simples, do jeito feliz, do jeito encantador
que é permitir que nossa expansão se toque

ainda haverá poesia de dois

quinta-feira, 18 de maio de 2017

existe sempre um mundo através da cortina
e outro ainda por dentro do espelho

sábado, 13 de maio de 2017

café da manhã na feira
café docinho tapioca no leite de coco
feira zoadenta que nem upanema, muita saudade
sentir em casa
castanha 5 reais
tarde com mariana
brownie
bolo de leite de avó
chegar em casa cedo
comida de jarina
brownie
documentário oceanos
foto de mylena com a irmã
cobertor quentinho
felicidade
e ontem eu ainda dancei forró!

domingo, 30 de abril de 2017

o caminho nós fazemos sós
e andando

sábado, 29 de abril de 2017

todo dia é uma benção
todo almoço cheio na mesa apertada é uma benção
o sorriso frouxo do meu pai relembrando a juventude é uma benção
ele me ensinando a podar as plantas é uma benção
minha mãe cozinhando é uma benção
e depois rindo que eu não consigo ter a mesma destreza na cozinha, é uma benção
e seu jeito feroz de nunca deixar ninguém nos tocar com o mal é uma benção
minha irmã sorrindo é uma benção
minha irmã sorrindo é uma benção
minha irmã sorrindo é uma benção
três vezes pra não botar quebrante
como diria minha avó, que é uma benção
seu gostar tanto de se sentir linda e me lembrar que eu sou linda também é uma benção
quiquica que me ensinou a ter o coração de um tamanho que caiba o mundo todo é uma benção
e esses dias em que meu coração se enche e amor com as coisas mais simples é uma benção
quando todo gesto é amor e toda leitura é amor também, é uma benção
porque toda vida é uma benção
todo momento junto é uma benção
viver é uma benção
e todo amor é oração

sábado, 22 de abril de 2017

she's gone
findo.
finito

quarta-feira, 19 de abril de 2017

gritando socorro
com a boca cheia
d'água
naufragando no próprio caos

terça-feira, 11 de abril de 2017

a chama não se paga diante do temporal.
O fogo arde muito mais quente para aquecer quem busca refúgio no frio.
E a única morada é aquela que meus pés cavam na terra enquanto caminho.
não há medo, relutância ou histeria.
O que muitos confundem com dor é apenas o pouso tranquilo
de quem volta pra casa.
Não há desespero não.
O que tua unha cuidou de escavar meu peito cuidou de reconstituir.
felicidade é flor que com cuidado e atenção
sempre uma escolha, uma afirmação
escolher dizer sim quando a gritaria do universo é não
pôr novamente os pés descalços e carcomidos no chão quente
dói? dói. E sempre vai doer.
Porque o sal que come é o sal que cura.
Você ousou usar espada grossa
tentou cortar as finas hastes que me erguiam
sem saber que, por sorte do destino
ou por escolha de quem me queria muito bem
eu fui feita para dançar conforme os ventos
eu envergo, me dobro, me doo
e jamais me quebro.

O fogo incendeia e destrói teu mal
renasço em meio as cinzas
não existe morte para os que escolhem viver
e eu vivo
muito mais, muito além.

eu não ando só.

domingo, 26 de março de 2017

você é linda

sexta-feira, 17 de março de 2017

não tão fácil
e nem tão difícil assim

é seguir pé diante de pé
sem destoar do prumo

enxergar a realidade
sem fio de ilusão
o que existe
além do que eu quero ver

revirar o espelho
caçar o bicho selvagem que mora ali
destroçar o reflexo
reinventar o tom perfurável dos cacos

preencher no lugar certo os vazios
o choque de ar quente nos pulmões não é afeto
o estômago que se enche
e nunca está cheio
porque o que mata não é a fome

vazio que sentimos é de outras coisas
que não se acumulam nem se trocam
nem enganam

é só vazio


quarta-feira, 15 de março de 2017

meu bem, eu sou correnteza
livre
e não existe barragem
pro aguaceiro 
peito de mulher





quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

meu amor nunca é pouco
é correnteza afrontosa, inestancável
vige pelas matas
abrindo caminho no ser tão

na sua força encaro o terror
diante do que não pode ser controlado
constrangendo-me com um arrepio
quase de prazer, também
por tudo aquilo que sabe ser maior
sendo exatamente o que se é

amando sempre e mais
mergulhando até os ombros
quem só queria molhar os pés

meu amor corrompe.
rasga o véu do que é belo
é estrondoso, é bizarro
meu amor é atrevido,
é inconsequente.

E por ser assim mesmo,
tão maior que eu, que minhas decisões
que meus medos
é ao meu poder de amar que rogo

imploro que seja sempre ousado
em oração, chego a pedir que me domine
o ato de amar, espero eu
me engula, me destrua, me integre a si
que muito maior que um ser,
eu seja o próprio pulsar

o rio atravessando a mata
o sentimento atravessando o peito

que eu seja como água:
sutilmente bicho feroz




terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

sem rima
sem verso
sem significado
o silencio silencio silêncio
do tempo

que corre
o ponteiro sou eu
o tempo permanece
congela meu coração
eu caminho tempo tempo
tempos
e os passos na mesma direção

só há a ida
mas eu continuo no mesmo lugar
desafiando o espaço
o costume
ritmo do corpo
eu fico

e vou deixando irem
as palavras
as intenções
os medos
eu esvazio
o peito
o ar
a mente

não há nada
sem cura
sem jeito
não há nada
aqui
ou ali

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

eu não desperdiço café
não sei ficar pela metade
no meio do caminho
deixando aqueles dois últimos goles pra trás

eu não abro mão do café
nem do beijo molhado
nem da falta de ar
nem sentir o peito quente de amor
de novo
eu não sei
nem quero aprender
a desistir no meio da bebida
nem da vida
nem do copo
nem do desejo

eu não sei
nem quero
aprender a metade
a abrir mão
de sentir tudo
de ser tudo

de queimar a boca
com a bebida quente

eu só bebo
se for pra deixar a marca

domingo, 22 de janeiro de 2017

eu gostei quando vi a gota do café caindo na xícara
na foto tremida, que não me trazia nem cheiro nem gosto
me trouxe uma certa segurança de quem vê a paz se estruturar
depois de tanto tempo de guerra, fumaça e caos

de alguma peculiar maneira que ainda não consigo explicar
te ver bem me faz um bem danado
desses que corta a tristeza e rasga a solidão

chove dentro chove fora
a cidade parece ouvir o ritmo do meu corpo
e ao invés de ditar seu próprio,
acaba sempre por acolher o meu

hoje a chuva tão casual
era o recado que minha alma cantava em tom agudo demais
desses sons que o ouvido humano ignora
mas que a natureza sempre interpretar com sabedoria e paixão

chove dentro chove fora
eu sinto sua falta
do tempo que nossos cachos corriam e dançavam
em outra chuva feito essa, que se derramava de alegria
ao invés de saudade

a gente corria pela universidade deserta
que sempre se preenchia com nossos sonhos
que eu não tenho mais a ousadia de sonhar ou deixar correr sem você

e dói ver você ser outra
outra que mudou num caminho diferente do meu
outra que cresceu longe de mim
outra que apertou o passo seguindo em outra direção

eu já sabia das mudanças
eu as esperava, até
o que dói é ver que mudamos, mas em tempo, ritmos distintos
não somos mais a mudança juntas
somos agora a partícula que início ou fogo mas se perdeu na combustão

sinto sua falta
de tudo que éramos, de tudo que podíamos ser
mas já não somos mais
nem eu sou eu
nem você é você
as duas
deixamos o nosso ponto de encontro

ao sair
esquecemos a luz acesa
é só um ponto aceso na estrada que traz lembrança.
não tão aceso à ponto de ser convidativo
nem incômodo o suficiente para o provocar esforço de retornar para apagar

é só luz
como a das estrelas que vimos naquela noite em pirangi
que corre no espaço rumo ao infinito
mesmo já não estando ali