Olá

Bem vindo a partes de mim



terça-feira, 27 de outubro de 2020

Eu caminho pela vida escrevendo histórias. Desde cedo tenho memórias curiosas de pequenezas importantes: lembro do cheiro do café pela casa e a textura da rede rosa que balança meu corpo infantil, enxergo com inigualável familiaridade o meio fio que me equilibrava na volta da escola, lembro de conversas inteiras que tive há anos atrás, mesmo que pra isso precise esquecer o que estava fazendo nesse exato minuto. Lembro da cor dos olhos da minha amiga de infância que não vejo há anos, e quais eram as mechas mais claras de seu cabelo antes dos processos químicos. Sinto rotineiramente o cheiro da floresta amazônica, com o mesmo toque fantástico e revolucionário que senti aos dezesseis anos.

Com a mesma facilidade, me imagino em terras que nunca habitei, mares que nunca nadei e quase sinto a areia engolindo meus pés só de imaginar o vento com maresia acariciando meu rosto. Eu vivo fantasias de maneira muito fácil, me encanto no colorido da vida e sempre me cerco por plantas, mesmo que seja só um arbusto. Meu pai me ensinou a me comportar como água, me transformando e cabendo, correndo solta e com a força das marés, mas silenciosa e sorrateira. Com isso, me ensinou que a vida é um rio que corre, arrebata, movimenta, acolhe e regenera. É nascente, correnteza, deságua dentro da gente.

Penso que há um certo valor em ser desatenta ao que é grande, sobra espaço pras pequenezas. E penso que isso ocorre por um motivo: contar histórias. desde criança eu só era capaz de dormir se ouvisse histórias, muitas vezes inventadas no ato por Quiquica. Hoje, enfrentando a insônia, retomo o sonho antigo de ser contadora de histórias.