Olá

Bem vindo a partes de mim



segunda-feira, 23 de novembro de 2020

nada se compara à felicidade de construir sua própria história

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Eu caminho pela vida escrevendo histórias. Desde cedo tenho memórias curiosas de pequenezas importantes: lembro do cheiro do café pela casa e a textura da rede rosa que balança meu corpo infantil, enxergo com inigualável familiaridade o meio fio que me equilibrava na volta da escola, lembro de conversas inteiras que tive há anos atrás, mesmo que pra isso precise esquecer o que estava fazendo nesse exato minuto. Lembro da cor dos olhos da minha amiga de infância que não vejo há anos, e quais eram as mechas mais claras de seu cabelo antes dos processos químicos. Sinto rotineiramente o cheiro da floresta amazônica, com o mesmo toque fantástico e revolucionário que senti aos dezesseis anos.

Com a mesma facilidade, me imagino em terras que nunca habitei, mares que nunca nadei e quase sinto a areia engolindo meus pés só de imaginar o vento com maresia acariciando meu rosto. Eu vivo fantasias de maneira muito fácil, me encanto no colorido da vida e sempre me cerco por plantas, mesmo que seja só um arbusto. Meu pai me ensinou a me comportar como água, me transformando e cabendo, correndo solta e com a força das marés, mas silenciosa e sorrateira. Com isso, me ensinou que a vida é um rio que corre, arrebata, movimenta, acolhe e regenera. É nascente, correnteza, deságua dentro da gente.

Penso que há um certo valor em ser desatenta ao que é grande, sobra espaço pras pequenezas. E penso que isso ocorre por um motivo: contar histórias. desde criança eu só era capaz de dormir se ouvisse histórias, muitas vezes inventadas no ato por Quiquica. Hoje, enfrentando a insônia, retomo o sonho antigo de ser contadora de histórias.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

um passo de cada vez e já não estou no mesmo lugar.
um passo de cada vez e estou mais perto de mim
um passo de cada vez e é o destino que chega

mas o destino não chega nem sabe andar
muito menos corre, seja de nós ou pro lado de cá
a vida sou eu agora
toda vez que levanto meu pé e ouso no próximo passo
sou eu correndo de mim por todo o meu caminhar

fito o horizonte com uma fome quase rebelde de querer mais
desejo cada vez mais forte aquilo que habita longe e não posso tocar
nem sinto cheiro nem sito o medo só sinto a fome daquele lugar
é o futuro tão bonito quanto inexistente, tão sedutor quanto mentiroso
e tão não meu que nunca eu nunca poderia tomar

meu único lugar é o que eu cavo com a sola dos pés
meu caminhar só leva a um único canto
são os sertões do meu coração e suas veredas tortas
eu sou eu mesmo, meu único futuro
meu único presente
meu único passado
sou eu que me desbravo, me acorrento e me solto
sou eu que me rebelo, me reinvento, me venero

eu caminho do meu lado,
agradeço ao sol meu companheiro
atravesso o sertão e quando posso sou água
danço pelas estradas e faço o sertão virar mar
corro solta pelas correntezas e nem sei se onde chego é onde quero chegar
mas chego.
vou comigo.
e onde eu chegar, aí é o meu lugar.

sábado, 11 de janeiro de 2020

KINTSUGI

- amor, desculpa te acordar
é que já já eu preciso ir embora e quero ficar um pouco com você...
(você rola pro meu lado da cama)
- deixa eu deitar no seu peito?



eu tenho construído a vida entre ausências.
é o ouro líquido que atravessa a louça rejuntada
abro caminhos nas presenças recortadas e torno uno o que aos poucos me agrega