Olá

Bem vindo a partes de mim



segunda-feira, 4 de julho de 2016

o olhos dela me arrastavam pra dentro. Faz algumas horas que estou parada olhando para eles e procurando alguma palavra exata que venha a registrar mesmo que minimamente o que eles causam em mim. Parecem duas ondas, me arrastando da areia e levando ao mar; parecem também que dentro dessas ondas existem cipós, que me amarram, me envolvem, me enlaçam. E não soltam.  São castanhos escuros, de uma escuridão que remete ao azul.
Aquele azul calmo e silencioso, misterioso, para dizer melhor. O azul gélido que queima, penetrando na gente. 

Ela parecia o mar. Naqueles dias que você consegue ver nitidamente a transição das cores da água, relatando a profundidade alcançada. Eu aqui, imóvel diante dela, parecia um animal indefeso, daqueles que fingem morte quando não querem ser predados. Assim eu ficava e ficaria mais muitas horas, se possível fosse. Se por algum motivo as divindades achassem que merecíamos sua benção de agarrar o tempo e estendê-lo por esse instante.

Parecia que faltavam as palavras, fugiam até mesmo os ruídos que minha boca poderia fazer. Nenhum balbucio de sílabas seria suficiente diante dessa cena. Nada mais importava. nada mais era digno de ocupar espaço entre nós, ou encher nossos ouvidos, que não fosse nossa própria respiração ofegante de quem vê o mar pela primeira vez. Isso e o meu coração, não vamos esquecer dele, meu coração rugia feroz, com fome, com sede, querendo desvendar o bicho na sua frente. Parecia um leão preocupado com o território, cheirava, gritava, andava em círculos ao redor do inimigo, esperando o momento de ataca-lo, de sobrepor seu corpo por cima do outro corpo e reconhecer ali quem afronta suas fronteiras.

Eu suava nas mãos, que já sentiam falta do corpo que ainda nem havia tocado, de tanto que ele já parecia a extensão do meu. Sentiam a falta, veja só! Eles notavam a ausência daquela pele enroscada na minha pele, sentiam o frio de saber que o calor está próximo mas ainda não aqui. Minhas mãos queriam passear por ela, descobrir as curvas, notar o formato, decorar a textura... Queriam descobrir em qual canto, qual esquina daquele corpo resguardava o nascedouro e toda a poesia.

Eu queria desvendar o mundo por baixo das roupas dela. Queria saber sua história, seus risos, suas cócegas, seus prazeres. Eu queria saber quem era mulher dentro da mulher, quem era a força onipotente por trás daqueles olhos. Ela era um universo à parte que me chamava pra dançar. Mas fazia isso tudo em silencio. Ela falava 4 línguas com o corpo e eu só queria uma delas correndo por minha pele.

Ela era um caos. Uma confusão maior que a minha, maior que as que eu já tinha visitado. Era o big bang pulverizando o céu antes de originar os planetas. E eu queria ficar pra depois da explosão. Aliás, se me permite, eu queria testemunhar a explosão. Eu queria ser a pólvora, queria ser a chama, queria ser a fumaça que abriga o fogo.

Eu queria tanta coisa mas diante dela eu só sabia querer. Eu não sabia sequer rasgar o ar entre nós com gestos que a trouxessem pra perto. 
Ela era um amor que vivia dentro da minha cabeça. Ela era o amor que eu tinha à minha frente (e ao lado, e acima, e por trás, e por dentro) sem saber mexer. 

Eu olhei por dentro dos olhos dela, pulando qualquer porteira que insistisse em me manter do lado de fora, desejei com toda a força do mundo que ela soubesse ler pensamentos só por esse momento, para que eu pudesse dizer a essa mulher - da forma que ainda não se sabe botar em palavras - o maremoto que ela causa aqui dentro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário