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sexta-feira, 9 de julho de 2021

andam dizendo por aí




eu escuto o sussurro desses olhares que me atravessam
cortam mais que peixeira afiada mas são silenciosos como uma beata
talvez seja pela escolha consciente de acreditar em histórias fantasiosas inventadas por um homem com medo de uma mulher
- ou se escondendo atrás dela para não ver o tamanho de suas responsabilidades

Não que Deus tenha nada a ver com isso, a escolha de enfeitar a história para os homens foi deles mesmos.
E aqui também o enfeite pesa mais que a história
Apesar de que esta também sofreu com o tempo e o repasses de boca a boca
se tornou cada vez mais frágil, infiel e escandalosa
mas sendo ainda a - confortável - história de um homem mediano vitimizado por uma mulher
cruel, é claro

Afinal, como poderia ser uma mulher consciente e honesta de suas escolhas e confusões sem ser cruel?
Não existe aporte em nosso vocabulário para isso.
T o d a mulher que escolhe seu destino é cruel. Como não seria? Todo mundo sabe que a mulher deve ficar no recinto até o homem decidir sair (apagando a luz, óbvio).

São as mulheres que devem digerir, acolher e amortizar todos os sentimentos.
São as mulheres que fazem as escolhas - se der errado, se der certo foram os outros.
São as mulheres que são ingratas, nada que tenham feito é visto, de qualquer forma. Pois bem, não há do que agradecê-las.

E são as mulheres que escolhem sua felicidade as mais cruéis. Se o pacto da mediocridade era ser infeliz junto ela não pode rompê-lo, não pode condená-lo. E mesmo após ficar tantas e tantas vezes, se dedicando de corpo, alma e coração, não houver mais nada a ser construído, ainda é ela que tem que varrer os destroços.

Pois a lua em escorpião não nega: escolho a vingança. Escolho a vingança de ser feliz todos os dias, amanhecer sorrindo e permanecer apenas onde posso caber sendo do tamanho de minha alma. Escolho a vingança quase desenfreada de ser uma mulher gigante, sem medo de crescer para que os outros não se sintam ofendidos. Sou segura de meu sol, e o estampo no peito. No peito, na bunda, nas coxas, no cabelos. Pois se tem algo que eu reaproveito dessa narrativa capenga e frouxa é apenas isso: que sou uma grande gostosa.

05 de agosto de 2020

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