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domingo, 9 de outubro de 2011

Frases da despedida

É o ciclo natural da vida. Não se há o que fazer. Mas mesmo assim, a despedida dói, ainda mais quando está junto com a chegada, já tão demorada.
Hoje, vejo o mesmo ser, os mesmo olhos que me observaram na infância, dar seus últimos passos nesse mundo. Não sei como descrever aqui o que senti. É impossível. Diante dos meus olhos, as pontas da vida, na mesma família, o mais novo e mais velho em fronte um do outro.
Hoje, nosso encontro, talvez o último das nossas vidas. Você, em que me sentei ao colo ainda quando bebê, quem sorriu ao me ver correr na terra e subir em árvores. Quem por vezes vi, concentrado, aguar sua plantas, com amor e carinho de homem da terra. Meu avô. O dono da casa com diversões demais para uma criança, quem me via correr com flores nos cabelos e acompanhou meu crescimento. 
Perdoe-me se não fui a neta mais próxima, se não companhei os últimos passos que conseguiu dar só, ou se não recordo a última vez que me ouviu com facilidade. Se me distanciei ainda mais com o tempo.
Mas é difícil para mim, ver-lo tão debilitado. Mas como me anima seu sorriso em meio à tudo isso. Acho que foi a primeira vez que te vi rir, de uma piada ou só da conversa. Sua risada, embora baixa, me trouxe um riso tão feliz, de esperança, de vida, de amor.
Como de dói, ver quem sorria para mim na infância, não me reconhecer mais. Seu olhar vazio de quem me cumprimenta mas não me conhece me corrói. Mas eu entendo, te abraço e te chamo de vovô, mesmo que não conheça algumas vezes, sei que o senhor está ai dentro, e eu o amo.
Porém, quando me reconhece e me abraça, me sinto tão tranquila, feliz.
Hoje, comparo sua pálidas e magras pernas às minhas, que contraste a vida é. Sua pele agora tem mais rugas, mas mesmo assim, te acho tão bonito. O cabelo alvo, que insiste em não cair, traz a mente o homem que fostes, o preto que se mantém em alguns fios é a marca da juventude que passou.
Seu corpo antes musculoso, agora é magro, mas mesmo assim, pesado demais para as finas pernas. Na paciência com que meu pai te guia e te apoia em seus lentos passos, eu vejo resplandecido o amor inteiro.
Quanta vida cabe em noventa anos?
Sua mãos, com um dedo a menos que o trabalho levou, são grandes e enxugam os olhos avermelhados e molhados depois do nosso abraço. Se o brilho que ali existe vem da velhice ou te tu próprio não faz diferença, mas projeta um amor pueril, uma força da labuta diária, da luta para sobreviver e de cada dia que se põe sem desfalecer o corpo e a alma já se torna uma vitória.
As fotos a minha frente são o passado presente e mais independente do frágil senhor ao meu lado, eu revezo e retorno meus olhares entre os dois homens, o da foto e o real. Em poucos anos, toda a velhice decidiu recair por ti. 
Quando em uma cama de hospital, ou sentado em uma cadeira na sala, gravo sua imagem, para ter certeza que o tempo não te apagará em mim.
Teu sorriso tão bonito, que guardarei para todo o sempre da minha vida.


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