eu acreditava que não iria escrever sobre você.
acreditava que nessa mentira, mesmo sabendo
o quão minha existência é condicionada a isso
eu preferi acreditar que nunca haveria um verso sequer
mesmo com os dias passando e as horas se alongando
mesmo com o carinho crescendo e a vontade também
mas acontece que os versos não ditos ainda arrumam jeito de existir
em alguma realidade suspensa entre os encontros de tempo e espaço
penduram-se nas finas linhas do acaso, escondendo-se do propósito
elas arrumam um jeito de cravar os dentes na gente
as palavras que nunca disse nem chegarei a dizer
flutuarão por ai, hão de achar caminho junto a ti
porque eu não posso dizer o que quero dizer
não posso tornar real o que não pode ser
é por isso que não haverá escrita sobre você.
mas haverá sobre uma poesia em que tive
particular cuidado com a métrica
durante a madrugada,
duas pessoas cruzarão a salgado filho
segurando o vinho em uma das mãos
e tudo o que não se descreve na outra
cultivarei o hábito de fumar cigarros
não por mim, nem pelo estresse
unicamente para dividi-los
no estacionamento vazio
enquanto escrevo
poemas mentais
Ainda, lerei mulheres
pesquisarei sobre suas vidas
e pensarei como seria amá-las
regando a bruta flor da juventude
colhendo a flor mais bruta ainda
que é a dos quereres insaciáveis
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