EU VI DEUS
Eu vi deus
e era uma mulher preta
Era uma mulher que me sorria, pedindo pr'eu cuidar de suas netas
Que me dava a missão
como quem recomenda o tesouro mais precioso
e eram
Eu vi uma mulher preta
Que me sorria, desejava boa noite
pra senhora também
Era preta. E sua pele era sofrida.
Mas sua boca sorria, e não tinha ódio
E pouca era a dor, calada diante de tanta esperança
Mas naquele corpo, naqueles ombros
Já se subiram as filhas, as netas, o mundo
A responsabilidade, a fome
o medo
Subiram os amores, os risos
A fé
Subiram como ela subia a ladeira, que dava em casa
Em Deus, subiram os sonhos.
Maiores que os meus, que os de todos ali
Era preta. Preta e sonhava.
Muito menos do que suas netas viriam a sonhar
muito mais do que a realidade queria permitir
Deus, que era mulher, que era preta
Que queria que eu cuidasse de suas netas
Que me recomendava com carinho
Que me dava boa noite e adoçava o café
Sonhava.
E mostrava, e fazia
que mesmo que te digam não
que mesmo que te tirem tudo
que te deem nada
Que DIGAM que você é nada
Deus era. Era mulher, era preta e era flor.
Floria de sonhos a vida, a boca e o destino
é garra, é força, é luta
Luta que não é mais só sua, é minha também.
É nossa.
Porque eu vi deus.
Eu olhei seus olhos e eu vi deus.
me deu missão - eu cumpro.
Cê cuida delas?
Podexá, a gente se cuida.
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