quero encontrar ferocidade em meus olhos
saudar no espelho a selvageria que habita meu caos
aquela que há tempo me despedi em troca da paixão
de trocas injustas nós entendemos
ariel usou sua voz pela última vez
pra implorar amor
e nós nos despedimos de nossa coragem
pra caber nos braços
de quem não conseguiria nos agarrar
se estivéssemos inteiras
você me pediu que escolhesse
entre ser uma mulher ou ser a sua
eu optei pela docilidade
a domesticidade silenciosa
e assim matei minhas paixões
disse a mim mesma
se eu for boa o suficiente
se eu for gentil o suficiente
e se eu nunca reclamar
talvez ele me traia apenas às vezes
talvez ele minta apenas quando precisar
e talvez ele diga coisas tão horríveis sobre mim
ah meu amor, se eu tivesse permanecido a mesma
se você não tivesse me matado aos poucos
sem que eu tivesse a chance de reagir
se a mulher que você escolheu
fosse a mesma que você abandonou
ela não deixaria pedra sobre pedra nesse lugar
mas você foi sábio.
é preciso adoecer antes de matar.
e é por isso
que mesmo depois de te deixar
eu ainda busco a aprovação corrupta
de quem não me amaria enquanto não me destruísse
você me escolheu por ser forte
e seu fetiche era me deixar fraca
um brinde às chamas que não deixam de queimar
lua em escorpião quadril quente e coração selvagem
entre as cinzas do que fui
eu renasço ainda mais forte
mais minha
mais mulher
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